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Monday, June 27, 2011

Fiasco

Demorou, mas colhi os frutos da minha viagem à Argentina com conexão no aeroporto de Carrasco, em Montevidéu. Neste domingo o último integrante do trio de clubes que apoiei durante o semestre sucumbiu e confirmou seu rebaixamento à segunda divisão do Campeonato Argentino: o grande River Plate, maior campeão argentino com trinta e três títulos nacionais, perdeu a primeira partida da Promoción e empatou a segunda em casa e encontrará o Rosário Central na B. O Huracán caiu antes pois não conseguiu nem pontos suficientes para jogar a Promo e teve a queda decretada com a derrota para o Gimnasia.

E citei a conexão porque, claro, o uruguaio Peñarol foi derrotado pelo Santos e ficou sem o título da Libertadores da América. A equipe caiçara sobrou no jogo de volta do Pacaembu e alcançou a conquista continental sem sofrer fortes emoções. O único gol carbonero foi "presente" dum zagueiro santista, Durval, mas nada que pudesse ameaçar a superioridade do time de Muricy. Com essa sequência de fracassos, virei motivo de piada como pé frio e Mick Jagger brasileiro. Mas tudo isto deixou nítido algo que ainda não havia me ocorrido: o ótimo momento da economia brasileira e seu reflexo no futebol.

Ficou muito vantajoso para o brasileiro viajar pela América do Sul, a moeda está valorizada e o país saiu da crise sem grandes cicatrizes, talvez exceto pelo número altíssimo de carros vendidos nos anos recentes. Enfim, a economia brasileira navega em águas calmas enquanto seus vizinhos, já em situação mais complicada antes, ficaram em situação mais complicada ainda. Sobra para a indústria, para investidores e, mais cedo ou mais tarde, para o esporte. A derrocada do futebol argentino já era visível quando o governo assumiu os direitos de transmissão através do Fútbol para Todos e mesmo assim os valores não eram grandes: o River mesmo, de tamanha torcida, recebe cerca de 28 milhões de pesos por ano enquanto Flamengo e Corinthians recebem da Globo 44 milhões de reais.

Se esse valor das cotas da televisão para o clube de maior torcida do país não é tão grande, os patrocínios também não são astronômincos. Curiosamente, os dois patrocínios do River são a brasileira Petrobrás no peito e a gaúcha Tramontina nas manga. Se essas são as fontes de entrada de dinheiro dum clube grande, o que dizer do resto dos clubes? A situação é a mesma em outros países: a folha salarial do time titular do Peñarol, convertida em reais, não chega a metade do salário do atacante Neymar. Tem que se considerar que ele tem acordos individuais e patrocínios que o resto do elenco não tem, mas está mais ficando mais comum ver times daqui conseguirem esse tipo de acordo. 

Verón abriu mão de muito dinheiro para voltar ao Estudiantes
Além disso, jogadores que estão no exerior são repatriados ainda enquanto podem render algo dentro de campo e trazer atletas dos outros países sul-americanos ficou mais fácil. Com a soma destes fatores positivos para o futebol brasileiro e a crise que não deve acabar tão cedo nos arredores, a hegemonia das associações nacionais deve durar quase uma década exceto por um ou outro azarão esporádico. Até lá teremos mais finais de torneios que parecem jogos de primeira fase de campeonato estadual, o Brasil pode se tornar a primeira grande meta de jovens promessas rumo à Europa e a Libertadores pode ter um novo soberano - e torço para que todos os clubes daqui com porte para aproveitarem essa oportunidade o façam sabiamente.

Tuesday, June 21, 2011

Home office

Nesta última segunda-feira houve um remanejamento de vários setores da torre dentro da IBM (há algumas grandes áreas, divididas por torres, com muitas outras subdivisões que se desmembram em diferentes processos) e alguns funcionários mudaram de prédio, outros que estavam afastados voltaram para uma região mais central dos prédios e meu time sofreu a perda de uma baia. Como bom blogueiro, tive a sorte de ser agraciado com a dádiva do assunto para um ou dois posts: como faço parte dum processo que necessita de apenas duas pessoas, meu colega Giuliano e eu fomos colocados para dividir a mesma baia num futuro revezamento do espaço. 

Enquanto alguma outra pessoa do time não estiver por lá devido a férias, dias de folga ou necessidade dela ficar em casa, então terei espaço para trabalhar lá junto com meu colega. Porém, quando todos estiverem presentes como hoje, um de nós terá que trabalhar de casa ou talvez em algum outro canto aleatório (centro de visitantes?). Como preciso receber a visita dum encanador e minha carga de trabalho está razoavelmente sob controle, fiquei em casa nesta primeira vez em que o rodízio foi necessário.

Confesso que até gosto de trabalhar em casa. A oportunidade de ficar num ambiente mais quieto e com menor chances de interrupções me ajuda a render mais e a me concentrar no meu trabalho, além de que não preciso gastar duas horas do dia com locomoção: a unidade da empresa fica em Hortolândia, uma cidade vizinha de Campinas. Essa facilidade também ajuda caso seja necessário resolver alguma pendência pessoal dentro da cidade. É uma pena que o recurso do trabalho em casa, que poderia ajudar tanto na relação de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, seja tratado como uma forma de resolução de problemas de espaço ou até contenção de gastos - já que em casa não se gasta água, eletricidade e materiais da empresa.

Enfim, hoje é minha vez, amanhã talvez seja a do meu colega e quem sabe do futuro? O jeito é torcer para que o nomadismo termine - ou quem sabe eu me adapte e até aprenda a gostar disso. E já que estarei na ativa daqui umas horas, o melhor é cevar um mate e escolher uma boa trilha sonora para o expediente. Para quem quiser rir um pouco, um post do site americano The Oatmeal sobre home office.


Thursday, June 16, 2011

Amigos

Post breve, até pela discrição que o caso requer. Meu namoro chegou ao fim após um ano e quase um mês. Foi um rompimento pacífico, sem agressões, ofensas ou (grandes) feridas abertas - foi o melhor antes nós começássemos a tomar caminhos muito distantes ou até a criar uma inimizade. Fica aqui minha gratidão por tudo que foi vivido e adquirido, mas isso tudo já foi discutido com a Lucila, que agora tento manter como amiga - de verdade, sem demagogia. Agradeço também pela atenção da família e dos amigos.

Sunday, June 12, 2011

El Titán

Neste domingo do dia dos namorados o Boca Juniors recebeu em La Bombonera o Banfield e conseguiu um modesto empate. Os detalhes da partida são mínimos, histórico é o adeus do atacante Martín Palermo em sua última partida disputada no tradicional palco esportivo. Sexto maior artilheiro do campeonato argentino e primeiro da história xeneize, ídolo que estará na memória dos torcedores por todo o futuro e conquistador de inúmeros títulos.

Like a boss
Após o apito final montou-se um letreiro com os dizeres "Nunca haverá nenhum igual", um vídeo foi exibido no placar do estádio relembrando feitos de "el titán" e o jogador fez um pronunciamento emocionado - como TODOS pareciam estar: colegas de clube, torcedores, dirigentes, comissão técnica, até seus pais. Um grupo de crianças da ONG SOS Infantil, administrada pelo dono da festa entregou uma capa de herói com o título "Super Martín".

Mais um vídeo foi exibido então, este de depoimentos de ex-colegas como o treinador Carlos Bianchi, de seus pais e até de seus filhos, a surpresa foi o presente de despedida: uma das metas do campo foi dada ao atacante. À primeira vista um presente de grego, inclusive Palermo brincou que não teria espaço para ela em casa, mas acho que não pode haver forma mais lisonjeadora de homenagear um centro-avante do que ceder-lhe o objeto de sua busca incessante por toda a carreira.


Isto tudo acabou de acontecer e vi a partida e o evento através dum site de streming, portanto não sei a repercussão que isso terá aqui no Brasil. Torço para que a imprensa daqui dê o devido espaço para a despedida de um dos grandes nomes do futebol do continente e que pare com a mania cretina de só lembrar de Martín pelos três pênaltis perdidos em uma partida feita pela seleção argentina contra a Colômbia. Ninguém aqui ou lá fora lembra da filha negada por Pelé ou dos travestis de Ronaldo, só para citar uma despedida recente. AQUI vai o link para uma ficha bem completa do atacante.

Tuesday, June 7, 2011

Times e bandas - minha versão

Há mais de um ano a revista Placar escreveu uma listinha comparando times nacionais a bandas. Como a revista é voltada a um público amplo, utilizaram bandas populares e de fácil reconhecimento dos leitores. No entanto, outro dia senti falta de adaptações - nos meios em que costumo discutir futebol, pelo menos, não vi nada semelhante. Resolvi então rascunhar algumas linhas do que seriam algumas bandas (principalmente de heavy metal) e seus equivalentes entre os principais times brasileiros.

Santa Cruz - Não há fim para a decadência do clube pernambucano. Foi campeão estadual, mas logo volta a jogar a Série D (algo como o Triângulo das Bermudas do futebol brasileiro) e apesar da simpatia de todo o país, volta a ser vítima de piadas após cada novo vexame. Sua ligação natural, portanto, é com Paul Di'anno, ex-vocalista do Iron Maiden que já conseguiu até a façanha ser preso por fraudar o "INSS" inglês.

Flamengo - O mais popular clube brasileiro e também o mais atraente para o fã ocasional de esporte. Seja para aquele torcedor que ainda acha que Júlio César é goleiro ou para o rapaz que tem uma camiseta do Fear of the Dark e ouve de tudo um pouco, não há melhores focos de paixão desapegada do que um jogo do Flamengo a cada meia década ou um disco do Iron Maiden (claro que isso não elimina o pessoal "true").

Gods of Leather
São Paulo - Soberano. Gigantesco. Épico. Avassalador. Retumbante.  Tanta imponência, soberba e a mesma fama de afeminados corre pelas arquibancadas do Morumbi e pela discografia do Manowar, os machos alfa das sungas de couro e fotos constrangedoras auto-intitulados "reis do metal". Nem um desmanche de carros roubados teria a ousadia de usar um título destes.

Palmeiras - Lembra daquela banda esmagadora que varreu continentes enquanto atropelava hippies e distribuia riffs hipnóticos? Se Tony Iommi foi um Ademir da Guia ao cadenciar o som do Black Sabbath, hoje o time alviverde está mais para um Ozzy Osbourne: gagá, perdido, manipulado e tão sem identidade que já gravou até com o jovem Justin Bieber.

Corinthians - Camisas roxas, negras, beges e agora vermelhas. Vários patrocínios estamparam o peito, as costas , o calção e até as axilas dos jogadores - expediente antigamente utilizado apenas por equipes de menor espaço na mídia e, portanto, de contratos publicitários de menores cifras. Se um time vira uma máquina de fazer dinheiro, então anda de mãos dadas com o Kiss e sua interminável lista de produtos oficiais que vão desde água até um inusitado caixão.

Internacional - Quando era criança, mais de uma vez folheei a Placar em dúvida se aquele Inter do "Rolo Compressor" e da era Falcão era o mesmo que fazia figuração nos campeonatos nacionais. Muito tempo depois, o time se reorganizou e voltou a se impôr nos gramados brasileiros e estrangeiros. A volta do “metal god” Rob Halford ao Judas Priest coincide com a ressureição do time colorado, já que o colossal grupo britânico patinou por algum tempo até se reencontrar.

Grêmio - As gerações mais jovens de torcedores entraram na onda "argentina" de torcer com a Geral e foram vistos como excêntricos pelos tradicionalistas. Pior: exaltavam um time limitado e raçudo que era apenas uma caricatura do que já foi o tricolor gaúcho nos nem tão distantes anos 90. Essa ode à mixaria lembra o Machine Head, que tem seus fãs apesar de ser apenas uma fagulha do que já foi o Vio-lence.

Formação clássica da Nega Veia
Ponte Preta – Alvinegra, nunca esbanjou dinheiro e segue desconhecida do grande público. Apesar disso tudo, a veterana esquadra tem sua base fiel de fãs e admiradores. Seu auge foi no final dos anos 70, pouco antes dos ingleses do Venom, criadores do black metal. Tiveram suas modernizações, mudaram um pouco de cara no decorrer das décadas, mas seguem sendo tradicionais e respeitados - muito graças à sua avançada idade.

Guarani – Co-irmão mais novo do rival, conseguiu chamar um pouco mais de atenção mas passou por mudanças de uniforme, de escudo e hoje está quase vendendo o estádio. Quem mudou tanto assim foram os músicos do Anthrax, um dia já considerados parte do Big Four das principais bandas do Thrash Metal junto com Slayer, Metallica e Megadeth, mas hoje apenas os avôs do Metal Macumba das crias Limp Bizkit e afins.

BORA, BURZUM, MINHA PORRA!!
Bahia – Já foi o maior das northern lands brasileiras,  mas alguns anos de ostracismo e muitos outros de notícias que beiravam o bizarro e o ridículo (inclusive envolvendo mortes e “trabalhos” para salvar o time da degola) tranformaram o Baêa no Varg Vikernes dos terreiros. O músico norueguês passou anos recluso após assassinar o "amigo" Euronymous (Vitória?) com facadas e também era mais lembrado por suas entrevistas pitorescas do que por sua música com o projeto individual Burzum.

Vasco da Gama – Corro um certo risco de passar vergonha e pagar com a língua caso o time da Colina seja campeão da Copa do Brasil. No entanto, o time da cruz de malta nunca mais se recuperou desde os tempos áureos do obeso capo Eurico – algo como o Exodus com Paul Baloff. Outros discos vieram, a banda continuou tocando, o Vasco também ganhou uma Série B, mas nada superou o atropelamento sonoro que foi o Bonded by Blood.

Fluminense - Recebeu o apelido de "Time de Guerreiros", mostrou que era raçudão, até conseguiram um Campeonato Brasileiro ano passado e a heroica fuga do rebaixamento em 2009... mas ninguém esquece que, assim como o Pantera, passavam maquiagem até outro dia.

Memórias...
Botafogo – Nelson Rodrigues já avisava sobre o jeito pessimista do torcedor botafoguense. Décadas depois, o pessimismo avançou à realização do fracasso e uma nuvem de lágrimas semi-chitãozesca alagou as faces do General Severiano – hoje, acho que até o pobre cãozinho Biriba cobriria o rosto para esconder seu pranto. Tanta pequenez, decadência e humilhação só podem ser equiparadas ao Nirvana, os arautos do vexame que, liderados pela voz do derrotismo, o suicida Kurt Cobain.

Santos – Se você gosta de firula, de muito drible maroto, de futebol moleque e cheio de ginga, venha ver os Meninos da Vila! Futebol alegre, descompromissado, a miríade de dribles é uma ode à malemolência e à àlegria faceira dos meninos-hobbits-caiçaras. Todo esse júbilo dos menestréis e trovadores praianos só pode ser encontrado nos feudos italinos em dias de shows do Rhapsody.

Atlético Paranaense – Até meados dos anos noventa, era o time dos marginais e delinquentes paranaenses. A chinelagem dos atleticanos é algo que parece surreal hoje, visto o novo perfil dos torcedores que parecem ter saído de algum episódio de Glee ou de qualquer outra série adolescente americana (bochechas róseas inclusas). Se há alguém mais revoltado com esse tipo de metamorfose do que um torcedor antigo do CAP, então há de ser um fã do Metallica que cresceu ouvindo thrash metal e teve que aturar tentativas frustradas de fazer stoner rock.

Coritiba - Todo torcedor bate o pé que o time é dos maiores do Sul e que esteve para iniciar uma rivalidade com o Internacional. Exceto por este último delírio de grandeza, o Coxa é um clube tradicional e com vários admiradores pelo Brasil (o número vai se multiplicar algumas vezes caso vença o Vasco na final da Copa BR de 2011) apesar de não ter tanto poder de fogo quanto sua torcida gostaria de acreditar.  Assim como o clube do Alto da Glória, fica a óbvia e esperada comparação aos doentes do Misfits, mas não só pelo Green Hell - a música da banda serviu para batizar a festa com fogos da torcida - mas também porque mesmo com as dificuldades já enfrentadas, tem o carinho de tanta gente mesmo que só conheça o meia Alex, as edições do GH no Couto Pereira ou meia dúzia de canções da banda punk.

Atlético Mineiro – Grande? Mas não tem Libertadores e não ganha nada faz tempo. Pequeno? Mas sua camisa pesa muito e sua torcida é um patrimônio da sociedade mineira, fora todos os jogadores que revelou. Irrelevâncias de “tamanho” à parte, o Galo é um dos pilares do futebol brasileiro e apesar de tudo, mantém uma massa fiel assim como seus conterrâneos do Sarcófago.

Cruzeiro – Se alguém já teve a ingrata experiência de sentar para conversar com um cruzeirense, sabe que não é fácil aturar uma arrogância que nem condiz muito com o jeito mineiro de ser. A raposa pode perder o pelo, mas não perde o nariz empinado e seu repertório de desculpas. Creio que só passei por experiências semelhantes em lojas de discos ao falar com fãs do Dream Theater – todos acostumados às escalas pentatônicas e arpeggios do pedantismo musical e do mimimi metálico.

Bonus track: Falando com o amigo juventino Vinícius, disse a ele que queria incluir o time da Javari, mas que não consegui pensar em um paralelo coerente. Prontamente ele lembrou do Diamond Head, banda influente que ajudou a moldar o início do thrash metal, mas que será imortalizada graças aos covers do Metallica - assim como o time é mais lembrado por ter sofrido o mais bonito gol de Pelé. Além disso, há muitos simpatizantes e muita gente já ouviu falar destes ingleses, mas há poucos adeptos e profundos conhecedores;

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