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Sunday, June 30, 2013

Manhã de compras

Entro numa loja de roupas, vou ao setor masculino e pergunto se a loja tem blazers.

- Hum, peraí que eu não sei vender blazer!
- Hum? Tudo bem...
(O rapaz que me atendia se afasta e volta com uma moça. Ela me mostra duas araras e deixa o jovem me atender novamente).
- Olha, Dani! Estou vendendo blazers! - e ele demonstra o produto com as palmas da mão para cima.
- Onde é que tem outros mesmo?
- Ali, depois das jaquetas.
- Legal.
- E aí?
- ...
- E aí? Gostou deles?
- É, até que sim - sou simpático e não digo que os achei medonhos.
- Eu, particularmente, não gostei! Eu sou novo, não ia gostar de usar isso.
- Ok.
- É para ir à igreja?
- O quê? Não, não. Olha, vou pesquisar por aí, tá bom? Obrigado.
- Tá - agora sucinto, ele responde com súbita seriedade.

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Já na fila do caixa de outra loja, com o blazer prestes a ser comprado.Uma moça aguarda para comprar uma calça e, acompanhada duma semimoça, conversam atrás de mim enquanto também esperam para serem atendidas.

- Já vou usar essa calça hoje a noite, vai me deixar com bundão!
- É a preferência nacional, né, amiga? Pode ser o homem que for, solteiro, casado, até crente, quando ele vê ele esquece de tudo!
- Só preciso mandar mensagem pra ver se o Fulano vai lá hoje.
- Já avisa da calça nova! Hahaha!
- Ah, vou avisar sim! - e ela começa a digitar uma mensagem no teclado do celular.
- Ai, odeio fila, odeio ter que esperar... quando eu for rica vou mandar alguém comprar roupas no meu lugar, assim não perco tempo esperando as moças do caixa ficarem falando "Próximo! Por gentileza!".
- E como você vai saber se a roupa ficou boa em você? E a alegria que é achar aquela roupa que a gente nem esperava ver?
- É só achar uma mulher com o meu corpo, aí ela experimenta e compra as roupas pra mim!
- Aí você aproveita e começa a comprar roupa numa loja melhor, porque aqui na Renner* é uó, né?
- Voce é louca (pronuncia-se "CÉLOCA") que eu vou continuar comprando aqui quando for rica!
- ...
- ...
- ...
- PREPARA!
- QUE AGORA!
- É HORA!
- DO SHOW DAS PODEROSAS! (em uníssono)

A partir deste momento já não prestei mais atenção. Se for para ouvir a tal da música das poderosas, exijo que seja cantada pela própria Anitta.

* O nome da loja foi invertido para não parecer propaganda.

Thursday, June 20, 2013

Caravana da Catarse

Hoje tem protesto em Campinas. Lerei tweets de conhecidos, verei fotos nos jornais da imprensa, durante alguns dias ouvirei relatos de gente que foi e se manifestou. Torço muito para que nenhum conflito comece por insensatez de imbecis, ainda mais considerando a localização da Prefeitura: sua frente fica num vale e manifestantes poderiam fugir apenas descendo a avenida Anchieta ou tentando subir para os bairros laterais, o Centro e o Cambuí, ambos de estreitas ruas antigas. Enfim, tudo isto vai acontecer muito perto de mim, mas não estarei presente por discordar das reivindicações.

A princípio o movimento lutava contra o aumento do preço da passagem. Agora que o preço voltou a baixar, inclusive em Campinas antes mesmo de qualquer manifestação, há o discurso de que não são apenas os 20 ou 30 centavos. Não sabiam explicar muito bem o que era então, mas agora já surgem os primeiros pedidos de saída da Dilma e desejo de serviços públicos de qualidade. Muito pouco para quem afirmava estar à frente do processo de mudança do Brasil: tiram a presidente e assume seu vice Michel Temer, com seu substituto eventual, o ilustríssimo Renan Calheiros; reclamam de impostos excessivos e também pedem mais transporte, saúde, educação e segurança "gratuitos", ou seja, o que já é caro e ruim deve melhorar com redução de orçamento e maior atuação do governo (aquele mesmo formado por políticos).

Aí você encontra amigos diferentes e eles perguntam se você vai participar do protesto. Você diz que não porque é a favor de privatizações, abertura do mercado e desestatização de serviços, que não vê mudança nas propostas que o povo pede para melhorar o Brasil - mesmo sem ter procuração minha para mudar um país que é tão meu quanto deles. Assim como Thoreau, acredito que o melhor governo é o que governa menos. Eles torcem o nariz porque esta palavrinha, "privatização", causa urticária em quem sofre de Síndrome de Estocolmo e precisa estar protegido por um enorme governo central. Aí você é visto como reacionário, pessimista, antinacionalista... a lista de ofensas vai tão longe a ponto de me chamarem de "tucano". E, como li por aí durante esta semana, há uma inversão aqui: o Brasil tem um longo passado de Estado bem servido de recursos e controlador, então uma política de abertura seria a revolução e quem apoia o governo é o verdadeiro "reaça". Mudar apenas a presidente ou a forma como se presta serviços é muito superficial: ainda continuam o cesarismo e a necessidade dos estatólatras de estarem sob tutela de políticos.

Aliás, sobre ser chamado de antinacionalista, está aí a parte mais curiosa deste fenômeno das últimas semanas. Tenho uma bandeira do estado de São Paulo tatuada em meu ombro, nunca tive grandes arroubos nacionalistas por esta colcha de retalhos chamada de país e nunca fiz juras de amor a ele - inclusive já nutro há um ou dois anos o plano de emigrar. Pois bem, gente cujo amor por esta nação era igual ou até menor do que o meu por inúmeros motivos, alguns graves e outros mais fúteis, hoje se enrola em bandeiras, grita que o gigante acordou e solta um arsenal devastador de frases bregas. Tudo muito bonitinho, tenho certeza de que isto tudo tem se convertido em um número significativo de curtidas no Facebook. E assim segue a Caravana da Catarse, da qual me recuso a fazer parte.

O governo, este grande atravessador bom de papo

Monday, June 17, 2013

O Beemote brasileiro

Como está na moda entre vários internautas, também comentarei com propriedade sobre um assunto do qual não sou espcecialista: a onda de protestos realizados nas principais cidades do Brasil.  A princípio com o mirabolante e até imaturo pedido por transporte público gratuito, manifestantes tomaram as principais avenidas do centro paulistano ignorando inflação, reajustes salariais de motoristas e demais funcionários, valores de manutenção de veículos, subsídios já multimilionários pagos às empresas contratadas e o principal: o número limitado de transportadoras e a impossibilidade de entrada de novos prestadores de serviço neste ramo. Enquanto não se discutir a liberdade de atividade de novas empresas, apenas se discutirá a validade de se dar socos na ponta da faca (ou formas diferentes de fazê-lo). Isto tudo sem entrar na discussão sobre possíveis interesses político-partidários, já que havia bandeiras de corjas como PSTU, PC do B e PSOL nas manifestações.

Leia-se: "Não aumente a passagem, invente algum imposto que seja empregado no subsídio"
Nesta última quinta-feira (dia 13), no entanto, os protestos começaram a tomar um novo rumo. Após a violenta resposta da Polícia Militar paulista à movimentação dos participantes na manifestação, os grandes veículos de imprensa e parte da população têm se mostrado mais simpáticos aos manifestantes. Em Brasília e no Rio de Janeiro também houve passeatas, estas defensoras de maior sobriedade com os gastos de dinheiro público com a Copa. É uma causa válida, embora esteja alguns anos atrasada, mas o curioso foi ver como estas duas manifestações geraram dois mantras: "Não é mais pelos 20 centavos" e "Não importa a causa, o importante é protestar".

Não se sabe explicar exatamente qual é então o verdadeiro motivo agora que ele não se resume mais aos 20 centavos do reajuste do preço da passagem. São também a corrupção, a violência, a inflação, o mau uso de dinheiro público, dizem. É a oportunidade de criar um novo Brasil, afirmam sem explicar como o farão. Enfim, o protesto ter se tornado mais importante do que sua causa é uma subversão, pois troca-se o meio pelo fim: não importa mais que fechem as ruas devido à má administração da Petrobras, aos maus tratos a animais ou à saída de Paulinho do Corinthians, importa apenas admirar a "beleza" daquela catarse coletiva. Vandalismo? Ah, é apenas um efeito colateral! Quatro mil atrapalharem a vida de centenas de milhares? Oras, é a democracia (mentira, amigo que não sabe fazer contas. Isto é liberdade de manifestação)!

O escritor e diplomata brasileiro José Osvaldo de Meira Penna tem entre suas obras o livro O Espírito das Revoluções, onde disserta sobre grandes revoltas populares e defende as transições pacíficas realizadas através de reformas políticas. Comenta a Revolução Francesa, a Revolução Bolchevique e a "Revolução" Industrial, esta a única provedora de melhoria da qualidade de vida a médio e longo prazo para quem a vive. Meira Penna usa dois personagens bíblicos como alegoria no livro: como Hobbes, chama o governo de "Leviatã" e o povo, de "Beemote".

Este Beemote verde e amarelo saiu de sua toca e agora, aplaudido, agita-se por todo o Brasil sem saber o que quer, quem exatamente o acordou e aonde vai. E daí vem meu temor: esta besta, com toda sua força, já tem feito todo este barulho com ações desorganizadas e aleatórias. O que poderá fazer caso seja controlado e tenha suas ações direcionadas? E o mais importante: quem teria pulso firme suficiente para dominar esta criatura antes de sua exaustão? Aguardemos o desenrolar desta trama, apenas torcendo para que estes conflitos não cheguem ao primeiro óbito - apesar de, infelizmente, isto me parecer cada vez mais provável.

Toda revolução começa com uma faísca, depois se transforma num processo autofágico

Thursday, June 13, 2013

Boa noite, facers!

Na terceira noite de junho tive um impulso enquanto usava o computador e meses de adiamento foram jogados pela janela: finalmente suspendi minha conta do Facebook. Eu, que tanto reclamava do conteúdo compartilhado por lá a ponto de fazer um post mais ou menos relacionado a isso, insistia na permanência mesmo após cancelar algumas dezenas de assinaturas e desfazer amizades com duzentas e poucas pessoas numa certa limpeza de contatos.

Claro, havia quem compartilhasse conteúdo muito interessante, mas eu cada vez mais ficava refém desse potencial: poderia ver uma imagem engraçada, poderia encontrar algum texto interessante, poderia chegar a uma nova fase de Candy Crush, poderia conversar com centenas de amigos através do bate-papo... Poderia, poderia, poderia. Mas também poderia ler mais, escrever mais, ser mais ágil em meu trabalho, aproveitar muito mais uma cerveja dividida com um amigo do que algumas janelas de chat piscando juntas. E assim gastava horas aguardando a resposta a algum comentário de discussões sem pé nem cabeça ou algum "oi" jamais enviado pelo chat.

Os primeiros resultados já começaram a aparecer: tenho escrito e lido mais do que antes, arrumei pastas de músicas e fotos (apesar de que o computador sofreu um acidente após engasgar com uns goles de chá de camomila e estar no conserto), atualizei meu perfil do LinkedIn, tenho aproveitado melhor a academia e finalmente marquei minha consulta com uma dentista - nem direi por quanto tempo adiei isto para não perder a amizade com o Germano. E aos poucos as pessoas começam a notar a ausência, mas acabam me achando por outros caminhos como: Twitter, What's App, Skype, e-mail e, vejam só, inclusive pessoalmente!

Como escrevi no primeiro parágrafo, apenas suspendi minha conta. Não planejo voltar ao Facebook tão cedo pois ainda tenho muita coisa para botar em ordem em minha vida, mas também não pretendo abrir mão desse canal de comunicação com alguns distantes e valiosos amigos. São alguns projetos aparantemente simples, mas postergados por tanto tempo que agora pretendo tratá-los com urgência.

Outra mudança feita para cumprir estes objetivos mais agilmente foi a troc ano horário do expediente, com entrada às 13 horas e saída às 22. Sim, é muito tarde e às vezes é desgastante, mas agora tenho o centro de Campinas ao meu alcance durante as manhãs. Por trabalhar numa área isolada, qualquer pequeno compromisso ou emergência envolvia alguns contorcionismos para eu conseguir disponibilidade de tempo para resolvê-los: mudança de horário, home office e pedido de aprovação gerencial. Isto tudo para obter uma autenticação de firma em cartório, receber um encanador ou simplesmente comprar um saquinho de pregos, pois nada disso é encontrado perto do meu local de trabalho. Bastou alterar o horário, agora não preciso depender do comércio aberto aos sábados nem da flexibilidade da empresa para resolver estas bobagens. E a partir de agora não tenho mais nenhuma desculpa para adiar a resolução de minhas pendências.

A sensação das primeiras horas de desligamento. Ao fundo, o Twitter

Saturday, June 8, 2013

Saindo da Matrix e d'A Real

Na escola aprendi que estuda-se História para que não se repitam os erros do passado. Apesar deste pressuposto parecer bobagem às vezes pois mudam as circunstâncias, alguns erros óbvios poderiam ser evitados pois não é com a aplicação repetitiva duma teoria equivocada que o resultado se tornará positivo. Com isto exposto, exponho meu erro com sinceros votos de que eles encontrem outros homens, perdidos hoje como estive outrora.

Por volta de 2008 encerrei um relacionamento de cerca de dois anos com minha primeira namorada. Usei a primeira pessoa, mas quem encerrou foi ela, por telefone, por ter conhecido outra pessoa. Hoje já não guardo rancor e soube que ela recentemente se casou com este mesmo rapaz. Até desejo felicidade e sucesso ao casal, mas na época praticamente implodi com este rompimento. Não havia apenas a forma da separação, mas também quem eu era neste momento: um cara inseguro, assustado, medroso e disposto a fazer qualquer coisa por aquela mulher - pois, julgava eu naqueles dias, seria a única na Terra disposta a ter um relacionamento comigo.

Ao vagar pelo Orkut (ainda era 2008) acompanhado pelo meu desespero encontrei então a comunidade Mulher Gosta é de Homem Babaca, na época um grande reduto de perfis falsos e parte dum círculo de fóruns e comunidades "masculinistas". Estes foristas uniram-se com a missão de acordar os "matrixianos", homens iludidos com ideais de romantismo e cavalheirismo. A ferramenta para esta conscientização seria "A Real" citada no título. Uma vez consciente ele poderia aspirar a ser livre, autossuficiente e senhor de suas próprias decisões - tudo isto pois se libertaria da submissão a seus impulsos amorosos ou carnais.

Exemplo aleatório. Muita coerência ao citar homens ricos com uma imagem do Seo Madruga
Teoricamente esta fábrica de guerreiros funciona muito bem, mas é muito fácil ir destas discussões à misoginia (ódio às mulheres) e ao discurso de incentivo à violência. Há até o caso mais famoso de Sílvio Koerich, um dia defensor das mulheres "Amélias" e, anos mais tarde, das mulheres espancadas (achei este link com uma explicação plausível para esta "transformação"). Além disso, havia mais membros destas e de outras comunidades dispostos a botar suas frustrações para fora do que rever seus pontos de vista, e daí surgiam discussões e lugares-comuns incoerentes e malformulados como incentivar que homens fossem cafajestes pois nenhuma mulher prestava mais (ou seja, como alguém se eleva fazendo exatamente aquilo considerado baixo?).

Apesar disso tudo, cabe citar uma frase de Winston Churchill, famoso por sua carreira política e também por sua sede incansável: "Eu tirei mais do álcool do que o álcool tirou de mim". Graças à criação muita próxima à minha irmã, à enorme influência que foi minha mãe e à convivência com amigas e colegas exemplares ao meu redor, não me descia ler aquela tempestade de ataques. Filtrei então o necessário, tanto o relativo às mulheres quanto o conteúdo sobre comportamento masculino e relevei o excesso. É ridículo aprender os primeiros passos sobre se valorizar, ter pulso, não ser tão dependente de aprovação alheia e tantas outras pedras deste caminho desta forma, mas infelizmente foi como aconteceu comigo. Mais tarde tive outros tropeços, ajustei estas teorias ao que via e me acontecia na prática. Hoje ainda carrego um pouco desta bagagem, mas ressalto: tudo isto é teórico. Assim como não se pode generalizar sobre as mulheres, uma teoria também não pode ser aplicada a todas.

Como faria He-Man, deixo meus conselhos não solicitados caso algum leitor de blogs deste círculo tenha chegado a este post por acaso: primeiramente, conviva mais com mulheres. Uma ressaca de Chapinha não serve de parâmetro para se odiar os vinhos, então não se torne misógino graças a alguma mulher que te feriu. Sobre a parte positiva deste meio, destaco este post do Blog do Doutrinador, queria ter lido isto quando tinha meus quinze anos de idade - mas tenha bom senso ao ler este e qualquer outro material deste tipo. Por fim, quando erramos um caminho é melhor voltar atrás do que seguir em frente e nos perdermos mais ainda. Se o homem moderno não consegue achar o meio termo entre a amabilidade excessiva e a violência do ressentimento, há o comportamento agridoce dos não tão antigos. Assistam filmes de Marlon Brando, Charles Denner e Sean Connery, por exemplo, mas com olhos atentos de alunos. Os filmes indicados nos links, a propósito, são ótimos e os recomendo independentemente do conteúdo do post.

Menos Kevin Arnold e mais Bertrand Morane

Wednesday, June 5, 2013

Retorno aos gramados

Em setembro do ano passado escrevi sobre meu abandono esportivo. Desiludido com o espiral descendente que cerca o futebol, resolvi me desligar completamente do esporte e até cancelei minha carteirinha do Torcedor Camisa 10 (ou apenas "TC10"), o programa de sócio-torcedor da Ponte Preta. Alguns dos motivos foram: administrações pretensamente profissionais, a tentativa de elitizar o público dos estádios, jogadores cada vez mais limitados sendo alçados cada vez a maiores alturas, o show de horrores e gastos dos preparativos da Copa, a meiga demência da nova geração de jornalistas esportivos circenses... enfim, vou parar com a listagem antes de desistir novamente.

A aberração
Fiquei alguns meses afastado, mas não resisti e voltei ao Moisés Lucarelli na partida contra o Palmeiras na primeira fase do Paulista. Meu time perdeu e encerrou uma longa série invicta, mas isto não vem ao caso (antes que me acusem de ser pé frio). Apesar de todos os fatores citados acima, sentia falta da convivência com amigos de estádio e com a atmosfera única do local. Reencontrei muitos amigos, revi o time, mas a primeira mudança significativa foi a setorização do estádio. O setor Brahma foi criado na lateral do campo para beneficar o Torcedor Camisa 10 e, com suas cadeiras vermelhas e brancas, espremeu o torcedor ponte-pretano na arquibancada localizada atrás do gol. O novo setor ainda é rejeitado por torcedores comuns e até por integrantes do TC10 pois a cultura da arquibancada é muito enraizada no torcedor. Além disso, há o ingrediente da construção do estádio pela própria torcida, mais um motivo para esta profanação ser tão execrada.

Após o balde de água fria inicial, sentei-me atrás do gol. Aí sim senti o resultado mais marcante deste hiato: ficar meio ano sem pisar no estádio me deixou mais racional e, claro, torcer passa longe de ser um ato calcado na razão. Pais de família esgoelavam-se por uma cobrança de lateral dada ao adversário, jovens urravam xingamentos contra um juiz localizado a mais de trinta metros de distância e senhores já ensaiavam seus infartos a cada gol perdido.

Estas duas horas de razão em meio a um manicômio a céu aberto foram um empecilho maior do que minha intenção de voltar a torcer apaixonadamente. Este nervosismo por bobagens, as brigas estúpidas contra torcedores adversários, policiais e até outros "macacos", são pequenos orgulhos que já não fazem sentido para mim. "Ah, seu time ganhou tal título, mas você não vai ao estádio!". Grande coisa, eu digo. Há algumas formas de se frequentar o estádio e ainda assim ser um estorvo para o time: invasão de campo, arremesso de objetos, cornetagem... Aquele torcedor que entra embriagado a ponto de nem assistir a partida ama mais seu clube do que alguém que mora longe, paga pay per view e compra produtos oficiais? O ato de alguém ir ao estádio significa apenas uma certa combinação de circunstâncias favoráveis e prioridade. Mas prioridade do clube sobre outras áreas da vida do torcedor? Ou prioridade da torcida organizada, dos amigos, do ambiente, das periguetes, da bebedeira, das brigas? Que a Ponte seja tratada como fim e não apenas como meio.

Stress duma semana de trabalho condensado em um jogo (foto do site oficial)
Já divaguei até mais do que gostaria, mas o mais importante é que voltei. Refiz minha carteirinha de TC10, estive no estádio na conquista do Troféu do Interior e sempre que possível estarei na arquibancada. E quando digo "sempre que possível", significa que a Ponte já não tem a antiga prioridade de passar por cima de horas extras, eventos sociais e tardes com a família. Agora trabalho das 13 às 22 horas (perdi o jogo contra o Atlético Paranaense desta quarta-feira) e nos fins de semana não devo mais perder encontros com amigos para me esgoelar inutilmente devido a um erro dum bandeirinha. Chega de gastar minha saúde com pouca coisa, tenho outras preocupações mais relevantes e mais urgentes para receber minha atenção e os fios de cabelo que me restam.

Sunday, June 2, 2013

Kindle

Recentemente estive nos Estados Unidos e fiz dois posts sobre os locais por onde passei, mas resolvi dedicar um post a um produto comprado por lá: após alguns anos de protelação finalmente comprei um Kindle, o leitor eletrônico da Amazon. O modelo foi o Paperwhite, modelo relativamente simples em comparação às versões mais modernas com capacidade para vídeos, tela HD, áudio, acesso à Internet, câmera e muito mais. Como eu me conheço, sei que um tablet destes teria outros usos, então preferi um modelo mais simples para me dedicar apenas à leitura.

Apesar de ser simples, gostei muito do aparelhinho: pesa apenas 213 gramas, tem boa capacidade de armazenamento (2 GB) e aceita arquivos de formatos variados, inclusive .pdf e .doc. Talvez a limitação de ações do Paperwhite seja até uma vantagem em relação ao consumo de energia: por não fazer mil e uma coisas, a carga dura algumas semanas e seu maior gasto vem da iluminação da tela, excelente para leituras em ambientes escuros. Além disso, o modelo que adquiri tem wifi para baixar e comprar livros, mas há também a opção do 3G.

Já sabia de algumas destas características, mas há também as vantagens que fui descobrindo com o uso: a praticidade de carregar vários livros num objeto tão leve, a possibilidade de fazer destacar trechos de textos, incluir anotações e, principalmente, poder enviar arquivos via email - quando se começa a usar o Kindle é feito um cadastro no site da Amazon para que o usuário tenha uma conta, então basta mandar um documento em anexo para seu e-mail "@kindle.com" e pronto, ele é transmitido ao aparelho.

Sobre pegar livros por aí, há sites muito bem servidos de obras gratuitas como o Project Gutenberg ou sites de universidades, como o da Penn State University (estas, minhas duas maiores fontes de obras). O tempo outrora gasto, muitas vezes sem muito sucesso, em sebos e sites de livrarias, agora foi reduzido junto com os gastos pois é mais rápido e às vezes gratuito baixar livros. A mudança ficou muito perceptível na minha estante do Skoob: de romances e livros de História minhas leituras recentes passaram a ser sobre Economia e principalmente Filosofia. Não parece uma diferença muito significativa, mas é mais difícil do que parece achar bons livros de conservadores e de economistas da escola austríaca em sebos e até grandes redes como a Saraiva.

Concluo o post enfatizando as facilidades do produto e sua parte técnica. Conheço quem diga: "Ah, mas um aparelho destes não tem páginas, não tem cheirinho de papel, não tem dedicatória!". Eu mesmo pensava tudo isto e hoje vejo que isso é mais fetiche pelo livro do que gosto por leitura. É como comparar dois carros e considerar um deles melhor apenas por ter rodas de liga leve e um sistema de som mais potente quando o mais relevante do veículo é sua capacidade de carregar passageiros. O mais importante do livro, por mais que possamos nos esquecer, é seu conteúdo - e por mais que eu também goste de dedicatórias perdidas, anotações alheias e rabiscos pessoais, tudo isto é supérfluo. Recomendo a todos os leitores ferrenhos a compra do Kindle, mesmo tão mais caro aqui no Brasil do que lá fora ele acaba se pagando após algum tempo devido a todos os livros que deixam de ser comprados.

Pequeno, leve e lotado de livros do Chesterton (na tela, trechos destacados dos livros)

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